Vagarosamente vamos subindo, um chakra após o outro.
Todos os desafios da jornada acontecem para que possamos nos acostumar com a paz. Por muito tempo estamos condicionados a ter prazer no sofrimento (por muitas vidas). Pouco a pouco, vamos realizando essa transição e vamos relembrando da linguagem do êxtase, que eu chamo de prazer positivamente orientado. Tanto tempo vivendo sob o véu de maya, condicionou a mente a sentir prazer no sofrimento. Esse é o desafio. É isso que mantém a repetição dos padrões negativos.
Se é destrutivo, porque não abrir mão? Porque é ruim, mas também é bom. O mais difícil é perceber que existe prazer nas situações negativas. Até mesmo intelectualmente, é difícil de compreender esse conceito. A pessoa pensa: “Que prazer pode haver em estar tendo dificuldades financeiras; em estar sendo rejeitado ou rejeitando de novo o meu companheiro?”; “Que prazer eu posso ter nos conflitos familiares ou em estar com o corpo adoecido?”; “Que prazer pode haver em estar mentalmente perturbado?”.
Até mesmo no plano dos conceitos, é difícil de compreender isso, mas esse é o ponto nevrálgico. É isso que sustenta toda a maldade desse mundo: é a corrente da energia vital ligada ao sofrimento.
É claro que, conscientemente, ninguém quer sofrer. Mas, eu estou falando de um condicionamento. Isso é um reflexo, ou seja, o seu corpo está condicionado. A grande maioria dos seres humanos dentro dessa faixa de evolução, só consegue sentir prazer se for numa situação negativa, o que eu chamo de prazer negativamente orientado, ou seja, o prazer em machucar e ser machucado.
Eu sei que alguns pensam: “Será possível mesmo que eu tenha prazer em uma situação negativa?”.
Cada caso é um caso. O condicionamento é instalado de acordo com o seu repertório. Alguns insistem em um padrão negativo, como uma forma de protesto, ou seja, uma forma de provar para a vida que ela foi injusta, então, a pessoa se pune e acaba sentindo prazer nesse movimento. O corpo se acostuma com essa movimentação.
Alguns insistem em uma situação negativa, como uma forma de forçar os maus pais a se tornarem bons pais, ou como uma distorção do amor (submissão ou vitimismo) para forçar a vida a dar aquilo que ela quer. “Eu não sou capaz”; “eu não sou potente”; “alguém tem que me dar.” Algumas vezes, a repetição negativa está sentada em um pacto de vingança. E, algumas vezes, é tudo isso junto. Mas, independentemente do que te levou a agir dessa maneira, o fato é que, em algum momento, o seu corpo acostumou com a sensação. Você aprendeu a sentir prazer nisso. Existe uma conexão, um investimento da sua vitalidade, nessa repetição negativa.
Eu tenho te ensinado a ter consciência de que há prazer no negativo. Porque o seu livre arbítrio é soberano. No mais profundo, é um cinzento que lhe agrada. É somente por que temos prazer, que a repetição negativa continua acontecendo. Conforme você vai aumentando a sua percepção, e começa a identificar que existe este apreço pela escuridão (que, por pior que seja, é conhecida e lhe dá um senso de identidade), você começa a arriscar abrir mão dela; você começa a arriscar a fazer diferente.
Por exemplo, em um relacionamento, você está completamente viciado em discutir com o outro. Você tem que sair vencedor na discussão e tem que ter a última palavra. Conforme vai amadurecendo, você começa a perceber a sua responsabilidade nesse conflito e, identifica que por mais errado que esteja o outro, existe algo em você que instiga essa discussão. Você percebe que há um apego; um desejo de repetir essa cena, porque é uma forma de sentir o seu corpo pulsar; é uma forma de sentir esse prazer negativamente orientado. Se você percebe isso, você começa a experimentar fazer diferente. Como seria interromper essa discussão e deixar o outro ter a última palavra? Você observa e nota que, se o outro se sente validado por você, ela passa a te validar. E, então, como é viver sem essa briga? Como é viver sem essa discussão? Como é viver com o outro que está dizendo “sim” para você?
Então, você começa a experimentar outro tipo de prazer, um prazer que nasce da paz, da calma e do silêncio. Mas, há que se acostumar com essa paz, porque a sua mente está condicionada a sentir prazer na agitação e no conflito.
Como naquele poema de Ravindranath Tagore: “Passei a vida procurando por Deus e agora encontrei a casa onde Ele mora. Mas, se eu bater na porta e Deus abrir? O que eu farei da minha vida? Tudo terá acabado!” Então, você dá as costas e sai correndo, e continua procurando por Deus, mas sabendo onde não deve procurar.
Você passou a vida com a mente condicionada a ter prazer no sofrimento. É claro que ela vai fugir de relacionamentos positivos, porque ela somente se reconhece dentro do conflito. O que será de mim, sem alguém para eu humilhar, para eu fazer se sentir menos? O que será de mim, sem alguém para me humilhar e fazer-me sentir menos? Esse é o ponto nevrálgico, é o condicionamento básico que precisa ser observado.
Buscar algo e encontrar o sofrimento é diferente de aceitar o sofrimento. A questão é: o sofrimento como circunstância ou o sofrimento como medida. Ele é sempre ocasional, mas cada pessoa lida com ele de forma diferente. Certamente o apego a ele é mantenedor de comportamentos ja identificados. Inútil para quem busca a transformação e a dinâmica da vida. Mas agir de forma a ignorar sua existência é se iludir da mesma forma que manter. A segunda questão é: O que traz o sofrimento? No BhagavadGita é sensorial, corpóreo, apego aos sentidos. Diz da ilusão causada pelas (falsas) verdades emotivas. Há de ter uma separação, uma distinção entre as certezas do pensamento e do sentimento. Apesar de não lidarmos bem com esse "desequilíbrio", é ele, que muitas vezes livra o pensamento do apego emocional que leva ao sofrimento. Nesse momento digo para mim mesmo: perceber-se é um ponto (físico) e um momento (psicológico) exato no tempo-espaço do homem. Livrar-se do apego ao sofrimento é entender o quanto somos transitórios e impermanentes no universo. Transforma qualquer certeza do ego numa auto-afirmação de medo e insegurança de viver.
ResponderExcluir"Livrar-se do apego ao sofrimento é entender o quanto somos transitórios e impermanentes no universo." Sim, é assim que sinto. Para mim, o sofrimento vem exatamente da não aceitação, é assim que funciona comigo. Aceitar a mudança e a natureza transitória do universo, estar aberta ao que a vida oferece, a cada segundo, seja o que for, faz de mim uma pessoa bem feliz. Pode ser o tempo de espera em uma fila...aproveito esse tempo para experimentar coisas que ainda não experimentei, observar as pessoas, ler um livro, simplesmente esperar.
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